Falha na matrix - Cenas do filme Matrix 1999 em que o conceito de energia e transformação deixam a desejar

Assista ao trecho do filme para entender melhor o que será discutido adiante.

Na cena em que Morpheus explica a Neo como as máquinas ficaram fora de controle, após receberem  inteligência, e escravizaram os humanos, também é detalhado que o ponto fraco delas é a fonte de energia. Inicialmente as máquinas eram alimentadas por energia distribuída pela rede pública, só que os humanos dependiam do funcionamento contínuo delas e  fizeram com que todas as máquinas fossem alimentadas por energia solar. Isso acabou facilitando a supremacia das máquinas sobre os humanos pois a fonte de energia era ilimitada. A única maneira de “desligar” as máquinas seria portanto, acabando com a disponibilidade de luz solar. Os Humanos criaram tempestades para  que a luz solar fosse bloqueada pelas nuvens.  
Neste ponto já podemos questionar: não haveria uma quebra na cadeia alimentar? é a luz solar que fornece energia para que os consumidores primários cresçam e posteriormente sirvam de alimento para os demais integrantes da cadeia alimentar, e portanto, transferindo energia, inclusive aos humanos. Vamos considerar esse deslize como licença poética já que de certa forma não ocorreu nenhum erro conceitual.
Mesmo após terem conseguido escurecer o céu os humanos não venceram as máquinas. Em uma reviravolta elas conseguiram obter energia em larga escala, usando os humanos como seu provedor de energia. Toda a energia humana é drenada pelas máquinas iniciando uma verdadeira relação presa-predador. Neste ponto eis que surge a principal informação a ser discutida nesse artigo.
Morpheus nos diz que um humano tem a energia bioelétrica de uma bateria de 120 volts; Volt é uma medida de potencial elétrico, energia em Joules por unidade de carga elétrica em Coulombs, ou seja para cada um Coulomb que circula entre dois pontos corresponde a 1 Joule de energia, sendo assim, não é apenas uma medida de energia. Volt é a “força” com que a carga elétrica é empurrada de um ponto a outro, conhecida como tensão,  pode-se muito bem existir tensão elevada e uma baixa quantidade de carga elétrica ou uma baixa tensão e elevada quantidade de carga. Além disso, ele também diz que os humanos liberam 25.000 BTUs (Unidade Térmica Britânica) de calor corporal. 
Se você estiver sentado em casa, relaxando em sua sala, assistindo televisão, saindo, a maior quantidade de calor, o máximo que seu corpo produzirá será cerca de 356 BTUs/hora. Mesmo se você estivesse praticando alguma atividade leve , seu corpo ainda produziria apenas cerca de 571 BTUs / hora. O que vemos no filme são pessoas presas em casulos imersos em uma geléia, nesse caso a primeira seria a melhor das situações, e está aquém do sugerido por Morpheus.
Se o que Morpheus sugeriu fosse real, a cada segundo obteríamos  uma taxa impressionante de 26,36 megawatts. Se o calor pudesse magicamente ser convertido em eletricidade, poderia alimentar uma cidade pequena. 
Outro fato é que o calor do corpo é uma forma dispersa de energia. A temperatura corporal é tão baixa que a conversão do o calor em energia elétrica teria uma eficiência  minúscula. Mesmo que fosse possível aproveitar todo o calor produzido pelo corpo humano durante um ano, obteríamos 0,84 Watt, quantidade insignificante para que os eletrônicos funcionem por alguns segundos.
Para concluir Morpheus apresenta uma bateria de 1,5 V tamanho D, indicando que as máquinas usam humanos como baterias. Ocorre que para manter um humano típico, vivo, são necessários por dia,  2000 quilocalorias, ou seja, aproximadamente 97 W ou 2,3 kW/h por dia somente para que o humano permaneça vivo, contra os 0,023 kW/h  de energia fornecida pela pilha. Em outras palavras a energia necessária por dia, somente para as funções básica, de um ser humano, corresponde a cerca de 100 pilhas tamanho D.

A primeira Lei da termodinâmica diz que a energia é sempre conservada, ela não pode ser criada ou destruída os humanos não podem produzir mais energia do que consomem. Na melhor das hipóteses podem converter energia alimentar (um tipo de energia química) em energia elétrica. No entanto, a energia necessária para coletar e distribuir os alimentos, seria mais do que a produzida pelos humanos. Acho que máquinas com inteligência artificial não achariam um bom negócio uma baixa eficiência energética. 

"Em um sistema, a variação de sua energia interna é a diferença entre o calor trocado com o meio e o trabalho realizado pela força que o sistema exerce em sua vizinhança."

Tudo bem, se você teve a paciência de chegar até aqui, Morpheus também menciona que as máquinas usam os humanos combinados com uma forma de fusão. A bioenergia seria uma forma redundante para que eles permanecessem ativos. Humm....Considerada a pouca eficiência no quesito fornecimento de energia dos humanos, seria como tentar explicar que sua casa está sendo alimentada por um motor a manivela, mas em caso de necessidade a usina de energia nuclear estaria disponível.